sábado, 17 de julho de 2010

You, women...


Tenho saudades do teu corpo nas noites em que me viro na cama até me enrolar no lençol, o suor colado à pele, o desenrolar do filme em frente dos olhos… Vem-me à ideia, desfiado em pormenores quase macabros, o percurso da ultima noite que passaste comigo, o riso, o sorriso, a tua cara… talvez tudo estudado, vejo agora, vocês as mulheres nascem com isso, o poder dissimulado de sentir o que não sentem… De magoar sem palavras, de matar os gestos sem aviso prévio, como se a vida fosse uma peça que está em cena há demasiado tempo…
Tenho saudades do teu corpo, de o ver sentado na cadeira do quarto, nu em frente à jarra de flores, a comer pizza encomendada à pressa, no intervalo do sexo. Comes como as crianças pequenas, em bocadinhos, estudas a fatia e escolhes minuciosamente que lado trincar… Dantes, irritava-me com estas pequenas coisas, quando achei que o teu prazo de validade tinha terminado, quando pensei que te deveria dizer adeus de uma forma serena, para evitar cenas e confrontos, para evitar que a despedida fosse demasiado colorida com sentimentos que não interessam. Há muito que aprendi a lidar com mulheres, as muitas que passaram pela minha vida antes de ti ensinaram-me a fazer as coisas direito, as separações tornaram-se tão rotineiras que me transformo em algo mecânico, como se não fosse eu no meu corpo, outro homem, um patrão a despedir o empregado incompetente…
Tenho saudades do teu corpo, chamava-te orquídea quando te descrevia aos amigos, o secretismo dos encontros a deixá-los com a incerteza da verdade, eu a contar do sexo, das tuas formas, do teu gosto a terra e a mar… Ah, como me tiras o sono! Tu, que viraste as cartas a teu favor, que inverteste as minhas regras do jogo, que te foste embora antes de eu poder fazer o meu papel de patrão a despedir o empregado… Se calhar é por causa disso que não me sais da cabeça, que te procuro nas ruas e que passo noites em branco a rever a história… Nem sequer te posso contar a raiva que te tenho. A vontade de te bater. De te fazer o que me fizeste, de te atropelar com a camião da indiferença sem olhar para trás…
Tenho saudades da cor da tua pele. Do desenho das veias nos teus seios, no teu pescoço, nas tuas mãos… A tua mania de falar com as mãos, de explicar tudo por gestos, como se eu fosse surdo, numa linguagem tão tua… Dos teus olhos. Parecia que cresciam quando te rias, faiscavam luz quando me ouvias…
Viro-me outra vez na cama. Levanto-me. Busco na janela vestígios de ti. Afinal, tu és a razão da minha insónia, onde estás? Pergunto-me se entendeste os sinais que te passei, se de alguma maneira te disse com os olhos que queria acabar, se me leste a mente enquanto comíamos a pizza…
Fumo um cigarro, eu que os detesto, mas o travo do fumo no teu cabelo, a mistura com o champô de frutos, com o teu próprio cheiro… Engasgo-me. Tusso. Praguejo…
 Visto-me. Pego nas chaves do carro. Vou sair. Encontrar-te-ei no café em que nos conhecemos. Tenho a certeza que estarás lá, a fumar o cigarro de sempre, a colorir as palavras com gestos, como se os outros fossem surdos...

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