sábado, 17 de julho de 2010

For you, keep my heart where you are


Estou aqui há muito tempo, disse-me a Sãozinha agora, nem há meia hora, quando me veio trazer o lanche. Disse-me também que amanha é dia de visitas e isso quer dizer que amanhã vêm cá aquelas pessoas que me tratam por paizinho e me apertam as mãos e insistem que eu coma iogurtes e papas para bebé. E quando eu me lembro de quem são até fico contente por cá estarem, acho eu. Só que depois vem outra vez aquela onda negra que me varre a memória e me faz esquecer o meu próprio nome e ver moscas a pairar sobre o meu corpo sem as poder enxotar. Estou aqui a apodrecer nesta cama as pernas não mexem as mãos não obedecem as palavras não saem. Nos raros momentos que sei quem sou adivinho a morte nas entranhas. A velhice dos ossos. O cansaço da pele. Revejo a infância, sempre a minha infância (será que estou aqui desde menino?) os putos que cresceram comigo, os banhos no rio à escondida da minha mãe que depois toma outro rosto e se chama Júlia e aí posso jurar que esta Júlia não me é nada estranha se calhar viveu comigo casou comigo ou se calhar tomou conta de mim quando a minha mãe não estava. Tenho a impressão que ela dormia nesta cama aqui ao lado, esta cama que agora está vazia...

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