sábado, 17 de julho de 2010

The ginger side of life:)

No one told me that you would enter my life like you did.
No email, letter, nor even a single text message to make me aware of the event.
Just a big smile in my front door, a smile that matched the one you (never) promised...
No one took the time to introduce me to you.
No shaking hands, cheek kisses, how are you not to bad
But no warning could had make me aware of how shiny is life in its ginger side;)...

When the hurricane passed and I found out why I'm here

Sei bem o que me rouba as noites. Sei o som das estrelas quando não estás. A queda implacável da lua, prisioneira do meu relógio, enquanto os cães uivam ao vento e os carros passam, seguindo a pressa da estrada.
Sei bem as palavras que não me deixam dormir. Ecoam nas paredes do quarto. No risco dos dedos. Na janela entreaberta.
Sei bem o segredo dos dias…
Os círculos que desenho no vazio, entre o fumo de um cigarro aceso e o frio do mosaico nos pés descalços. Ando às voltas, sem sair de onde parti, sem respostas para as perguntas, presa no que não quero saber…
Tenho ainda fome do mundo. Tenho a alma cheia de não sei o quê, o peito a explodir de raiva, de electricidade. Não consigo controlar esta energia que me cresce nas entranhas, os volts que me explodem nas mãos e que eu nunca sei a quem posso dar… Guardo-os. Desperdiço-os. Magoam-me. Destroem-me. Roem-me os sonhos e os planos. Matam-me devagar…
E se me perguntarem porque continuo a sorrir só posso responder que é por mim…

You, women...


Tenho saudades do teu corpo nas noites em que me viro na cama até me enrolar no lençol, o suor colado à pele, o desenrolar do filme em frente dos olhos… Vem-me à ideia, desfiado em pormenores quase macabros, o percurso da ultima noite que passaste comigo, o riso, o sorriso, a tua cara… talvez tudo estudado, vejo agora, vocês as mulheres nascem com isso, o poder dissimulado de sentir o que não sentem… De magoar sem palavras, de matar os gestos sem aviso prévio, como se a vida fosse uma peça que está em cena há demasiado tempo…
Tenho saudades do teu corpo, de o ver sentado na cadeira do quarto, nu em frente à jarra de flores, a comer pizza encomendada à pressa, no intervalo do sexo. Comes como as crianças pequenas, em bocadinhos, estudas a fatia e escolhes minuciosamente que lado trincar… Dantes, irritava-me com estas pequenas coisas, quando achei que o teu prazo de validade tinha terminado, quando pensei que te deveria dizer adeus de uma forma serena, para evitar cenas e confrontos, para evitar que a despedida fosse demasiado colorida com sentimentos que não interessam. Há muito que aprendi a lidar com mulheres, as muitas que passaram pela minha vida antes de ti ensinaram-me a fazer as coisas direito, as separações tornaram-se tão rotineiras que me transformo em algo mecânico, como se não fosse eu no meu corpo, outro homem, um patrão a despedir o empregado incompetente…
Tenho saudades do teu corpo, chamava-te orquídea quando te descrevia aos amigos, o secretismo dos encontros a deixá-los com a incerteza da verdade, eu a contar do sexo, das tuas formas, do teu gosto a terra e a mar… Ah, como me tiras o sono! Tu, que viraste as cartas a teu favor, que inverteste as minhas regras do jogo, que te foste embora antes de eu poder fazer o meu papel de patrão a despedir o empregado… Se calhar é por causa disso que não me sais da cabeça, que te procuro nas ruas e que passo noites em branco a rever a história… Nem sequer te posso contar a raiva que te tenho. A vontade de te bater. De te fazer o que me fizeste, de te atropelar com a camião da indiferença sem olhar para trás…
Tenho saudades da cor da tua pele. Do desenho das veias nos teus seios, no teu pescoço, nas tuas mãos… A tua mania de falar com as mãos, de explicar tudo por gestos, como se eu fosse surdo, numa linguagem tão tua… Dos teus olhos. Parecia que cresciam quando te rias, faiscavam luz quando me ouvias…
Viro-me outra vez na cama. Levanto-me. Busco na janela vestígios de ti. Afinal, tu és a razão da minha insónia, onde estás? Pergunto-me se entendeste os sinais que te passei, se de alguma maneira te disse com os olhos que queria acabar, se me leste a mente enquanto comíamos a pizza…
Fumo um cigarro, eu que os detesto, mas o travo do fumo no teu cabelo, a mistura com o champô de frutos, com o teu próprio cheiro… Engasgo-me. Tusso. Praguejo…
 Visto-me. Pego nas chaves do carro. Vou sair. Encontrar-te-ei no café em que nos conhecemos. Tenho a certeza que estarás lá, a fumar o cigarro de sempre, a colorir as palavras com gestos, como se os outros fossem surdos...

For you, keep my heart where you are


Estou aqui há muito tempo, disse-me a Sãozinha agora, nem há meia hora, quando me veio trazer o lanche. Disse-me também que amanha é dia de visitas e isso quer dizer que amanhã vêm cá aquelas pessoas que me tratam por paizinho e me apertam as mãos e insistem que eu coma iogurtes e papas para bebé. E quando eu me lembro de quem são até fico contente por cá estarem, acho eu. Só que depois vem outra vez aquela onda negra que me varre a memória e me faz esquecer o meu próprio nome e ver moscas a pairar sobre o meu corpo sem as poder enxotar. Estou aqui a apodrecer nesta cama as pernas não mexem as mãos não obedecem as palavras não saem. Nos raros momentos que sei quem sou adivinho a morte nas entranhas. A velhice dos ossos. O cansaço da pele. Revejo a infância, sempre a minha infância (será que estou aqui desde menino?) os putos que cresceram comigo, os banhos no rio à escondida da minha mãe que depois toma outro rosto e se chama Júlia e aí posso jurar que esta Júlia não me é nada estranha se calhar viveu comigo casou comigo ou se calhar tomou conta de mim quando a minha mãe não estava. Tenho a impressão que ela dormia nesta cama aqui ao lado, esta cama que agora está vazia...